12 maio 2017

Ciganos e vaginas temperamentais.

Existirá um prazo de validades para blogs não abertos? Se sim, este meu cantinho no mundo virtual já estará expirado... na realidade já houve tempos em que cheirou melhor, e o bom senso aconselha-me que o jogue fora para a lixeira cibernética.. mas o coração é mais forte, e este meu espacinho é sem dúvida um brinquedo que deixei de usar mas que não empresto a ninguém...

Vou sacudir o pó, abrir as janelas a ver se o cheiro sai, acender uns incensozitos, e vamos ver se a coisa ainda se aproveita.

Mas na verdade não está esquecido. São muitas as vezes que penso em vir aqui verborrear as coisas da vida, mas sinto que a vida tem sido pouco interessante para merecer ser debitada nesta caixa de pandora...

“olha a parvalhona” - dizem vocês os dois que estão a ler isto (tu, e eu própria que irei reler, tá claro) - “vive numa Ilha perdida e paradisíaca no fim do mundo e diz que a vida não é interessante... haviam de lhe nascer hemorroidas pelo rego acima“...

E vocês estariam certos – no fundo tu e eu estaríamos certos – mas sinto-me casada, quotidiana e tributável... Já não tenho stripers na minha vida, nem ciganos a querer vender-me esperma...

...

Ou será que tenho?

...

Era uma vez um determinado indivíduo de etnia cigana que me ofereceu a sua essência, que é como quem diz esperma, para curar o meu problema de pilosidades faciais, que é como quem diz barba (http://memoriasdeumaqueixa.blogspot.com/2010/03/domingo.html), depois desapareceu da minha vida, mas nunca da minha memória.

É verdade que me mudei, não foi só de cidade, nem tampouco só de país, foi mesmo de continente e para debaixo da axila de África para ele não me encontrar, mas... nesta minha última visita a Sines, em passeio pelo grande Internachê com os meus progenitores, demos de cara com o dito cujo.

M E D O.

Ele comenta “Tu já na te deves alembrar de mim”... e eu penso cá para mim... “então não me iria alembrar do personagem que além de dizer que eu tinha barba, se oferece para cozinhar uma receita de esperma, vinagre e ervas para resolver de vez os meus problemas?”... “Pois, não estou a ver não” - digo eu, a fingir-me tímida e sem pêlos na cara, não vá a oferta surgir outra vez... O meu pai fez questão de me relembrar (ele não assistiu à generosa oferta), que o senhor tinha sido muito caridoso, pois ajudou-nos a carregar mobília para Évora. Eu disse “Ah, claro.. Então não me iria lembrar de pessoa tão generosa como você, caro senhor, claro que me lembro”... Cumprimentamo-nos assim meio à tia, que era para ele não sentir barba nenhuma.

E pensei cá para mim, que melhor oportunidade para retomar este cantinho de queixiçes que depois de reencontrar o cigano do esperma?

Só mesmo se for para falar de vaginas e restos de parede do endométrio. E é exatamente sobre isso que venho aqui falar hoje.

Vou re-abrir esta espelunca para falar de copos vaginais.

Copos vaginais? - perguntas tu, porque eu já perdi o interesse na leitura.

Sim, copos vaginais, minha criatura sem vida que continua a vir aqui reler aquilo que escrevi há uma década atrás.

Copos vaginais são a nova sensação de coisas para enfiarmos na vagina. Ah e tal, é ecológico. Ah e tal, é mais saudável. Ah e tal, é mais barato. Ah e tal, só tens que enfiar um copo pela vagina acima.

Desafio azeite.... desculpa, aceite.. são as saudades.

Isto de morar no fim do mundo tem que se lhe diga. É espetacular q.b....

É bonito, sim senhora, não há ciganos que me oferecem esperma, nem strippers que dancem ao som da spanish guitar (http://memoriasdeumaqueixa.blogspot.com/2008/04/one-with-strip.html)… mas, se me aparece o filho-da-puta do período sem aviso prévio, eu não posso ir ali à Galp comprar pensos a 20€. Não há galp. Não há pensos. Nem tampouco há euros.

Eu estou em África e há folhas de bananeira. Já tentei e não resulta. Diz que é pouco absorvente.

Assim sendo, de cada vez que vou a Portugal, o que acontece de 6 em 6 meses, tenho que trazer um carregamento de pensos como se me estivesse a esvair em sangue por todos os poros do corpo. A senhora da caixa olha sempre para mim com uma certa pena, receito e alguma curiosidade também. Parece-me que evita tocar-me, em caso de ser contaminoso.

E assim, tenho os armários, gavetas e o espaço debaixo da cama cheios de embalagens de evax, para quando o filho-da-puta visita e para o resto da minha vida, parece-me.

Eu estava bastante conformada com esta vida. Afinal, sobre isto de nos esvairmos em sangue há pouco que se possa fazer.

“Porque é que não usas tampões?” - perguntas tu com a mania que sabes das coisas. “Arrumam-se melhor, ocupam menos espaço e blá, blá, blá, wiskas saquetas”.

Porque a minha pitchuquinha não gosta que se lhe enfiem tampões pelo colo acima. Eu pensava que ela até era assim para tudo o que fosse de enfiar, mas parece que a magana afinal gosta que outras coisas se enfiem por ela acima... mas tampões... a cabrona não vai lá...

Já tentei. Em cada período tenho a esperança que desta vez ela aceite a minha oferta generosa de lhe enfiar um supositório de algodão que triplica de tamanho com o fluxo, pela goela acima. Faço-lhe carinhos, falo com ela com respeito, e explico-lhe o quão melhor é do que andar de pensos que ensopam, sujam, e nunca ficam bem alinhados na cueca e acabam sempre por se enfiar no rego.

Eu juro que tento. Ela não deixa. Fecha-se em copas. Grunhe “Nã nã nã nã”, e não deixa. Estrago tampões e nada... lá tenho que abrir a merda de uma fralda evax e fazer-lhe a vontade.

“Então se ela não aceita tampões, vai aceitar um copo vaginal?'”, perguntas tu a meter-te já onde não deves, que assuntos privados são assuntos privados. Raios-ta-partiçe...

Mas é aí que a história fica interessante.... ou talvez não... pouco importa agora.

Uma amiga visitou-me aqui a casa e, sentada na minha casa de banho, e com pouco com que se entreter (eu aqui não tenho Turmas da Mónica perto do trono de cerâmica), reparou na quantidade astronómica de pensos higiénicos que eu tinha em armazém.

E perguntou-me “tu, que és uma moça tão ecológica e dada às eco-cenas, ainda fazes todo este lixo em pensos usados”?

E eu pensei, “eh lá, tu queres ver que agora, nos países chamados desenvolvidos, voltaram ao paninho para lavar?”

“Porque é que não usas o copo menstrual?” - pergunta ela.

5 anos de Ilha do Príncipe faz com que se perca um pouco dos desenvolvimentos do mundo. Estamos bem aqui. Não precisamos de modernices. Mas por isso, quando ouvi falar em copos vaginais senti-me membro da comunidade Hamish que ouve falar de música pela primeira vez. Repugnei, achei absurdo e um pecado, uma loucura diria mesmo, “quem é que inventa tal tortura?” - disse eu... mas depois fiquei curiosa.

“Copos vaginais?” - perguntei eu, já a parecer tu.

“Sim, é a nova moda. São ecológicos, porque podes reutilizar e duram 10 anos. Só tens que lavar entre cada utilização, e ferver de período para período. São mais saudáveis, porque o vácuo que se cria no copo não deixa que se desenvolvam bactérias. E o melhor de tudo, podes ficar com ele 12 horas.”

Senti a pitchuquinha encolher-se. Senti as paredes do endométrio apertarem e os lábios fecharem-se para nunca mais abrirem (os vaginais, não os outros). Senti-a a tremer e a pedir-me baixinho “Não, por favor, não” - numa cena em que se encosta à parede a ouvir a Celin Dion e a soluçar baixinho.

Mas então tu não gostas ed coisas grandes por aí acima, e de preferência que vibrem, minha grande porcalhona? Ah, vais experimentar sim senhora, que quem manda aqui sou eu!

(não sou, na realidade, mas são coisas que se dizem no momento).

Assim sendo, caguei nas vontades da pitchuquinha e comprei um copo vaginal de 30€.

E para me forçar a realmente vencer a mimalhiçe da pitchuquinha, nem trouxe pensos desta vez. Assim, ou é isto, ou folhas de bananeira.

Comprei o dito cujo. Todo fashion, num saquinho roxo, de cor verde. Fiz várias perguntas à menina da farmácia que não soube responder a nenhuma. “Não conheço ninguém que tenham usado” - diz ela, “Mas, nunca ninguém veio reclamar.” - completa. “Talvez porque ninguém sobreviveu” - penso eu. “Mas que se lixe, vou levar e depois venho cá contar”, remato eu confiante, enquanto saio toda serelepe da farmácia, de copo vaginal na mão e sorriso na cara. Isto é que é modernidade!

Guardei na mala para a viagem e não pensei mais no assunto.

Cheguei há 3 dias, e hoje veio visitar o filho-da-puta, porque estava cheia de saudades (o período, entenda-se. Eu trato-o assim que é uma brincadeira que a gente tem). Ao pressentir que ele ia aparecer, isto porque ele gosta de se anunciar, tirei o copo do saquinho fashion.

Durante a hora de almoço pus o copinho a ferver e tal. Ele boia na água, por isso fiquei com a sensação que se calhar estava mal fervido, e quando voltei do trabalho à tarde, resolvi ferver novamente só por descargo de consciência.

Enquanto esterilizava o copito, fui fazer exercício – sim, porque agora eu faço exercícios e sou uma mulher cheia de energia e com menos 20 kg – esqueci-me do copo ao lume.

Quando comecei a ouvir o som de panela a ferver vazia, saltei da bola de pilates e corri para a cozinha. Só havia uma bordinha de água e pensei, já fodi esta merda toda.... gaiata dum cabrão, nem sequer vai conseguir dizer que conseguiu usar esta porcaria porque derreteu o copo ao lume... só mesmo tu Estrela Matilde... e esbofeteei-me um bocado, só para ver se aprendo.

Mas afinal o copo estava bem. Se dura 10 anos, também dura o fogo direto, ao que parece. Nem sei do que isto é feito, mas parece imortal e invencível... mesmo o que eu preciso para a luta contra a pitchuquinha.

Depois de tomar banho, toda limpinha e em toalha, resolvo experimentar, porque o período iria chegar em breve, e convinha experimentar antes de ficar toda lambuzada em langanhozises.

Fiquei a olhar para o copo uns bons 20 minutos. Pensei. Deixei de pensar. Pensei. “Como é que vou enfiar isto lá dentro?”. Deixei de pensar...

Fui ver videos no youtube. Agora é assim que se aprendem coisa, as enciclopédias menstruais ou a Drª Susy da Sic Radical, são coisas do passado. Ignorei os vídeos que diziam “o que não te explicam sobre o copo menstrual” e “a minha vagina recusou o copo menstrual”, e tudo o que fossem energias negativas de gente com passarecas mais esquisitas que a minha. Eu queria positivismo, passarinhas felizes, contentes e com um copo enfiado... tudo o que ajudasse na contaminação positiva da minha pitchuquinha já era muito bom.

Aprendi, por exemplo, que se tem que dobrar o copo. Ufa... menos mal.

É fácil dobrar um copo de silicone médico? Não..

Mas existem 7 dobras possíveis: em S, em C, em 7, em diamante, em o raio-que-a-parta... porque ao que parece, cada passarita gosta do copo dobrado de maneira diferente... são finas, as meninas.

Lá tentei uma dobra... não foi.

outra dobra... não foi.

A verdade é que o copo é tão grosso que é difícil fazer força na dobra para ele não se abrir antes de estar no sitio certo. Tem estar fechadinho, e depois de enfiado rodar um bocadinho para ele se abrir, e puff.. fez-se o chocapik. Depois é só puxar quando tiver cheio, despejar, lavar e voltar a enfiar.

Simples não é?

Não....

Tentei várias dobras.. Tentei até ao contrário, não fosse o caso da minha pitchuquinha ter a mania de ser alternativa.. Não foi..

Tentei deitada, nada...

Com a perna em cima da sanita enquanto olho para trás, nada..

A fazer o pino, nada...

Quando começou a ficar dorida, irritada – literalmente – e vermelha, desisti.

Chamei-lhe todos os nomes possíveis e imaginários. Ameacei que não irá comer tão cedo.. mas desisti...

Hoje veio-me o período.

Pensei, vou tentar de novo. Nem que seja pelos 30€, tenho que tentar de novo.

Tentei uma, duas vezes. Uma, duas, três dobras diferentes. Finalmente consegui!!!

Fiquei na dúvida se abriu lá dentro. Será que abriu? Tentei rodar para fazer não sei o quê que explicam nos vídeos, não roda merda nenhuma, e ainda belisquei a pobre coitada.

As especialistas do youtube disseram que não podemos sentir o pinozito que sai do copo e que serve para puxar, então achei que devia ir um bocadinho mais para dentro e lá enfiei a porra do copo mais para dentro.

Merda...

Agora não consigo tirar. Tive 5 segundos de pânico em que imaginei a minha vida nesta Ilha depois de ter que ir às urgências – que não existem – por ter um copo enfiado na vagina. Com certeza seriam filas de “médicos” para ajudar a puxar o copo da vagina da branca... eu deixaria de ser a branca da biosfera para passar a ser a branca do copo na vagina.. Vivo com isso? Talvez...acho que já vivi com pior...

Estes pensamentos ocorreram todos em 5 segundos. Eu sou assim, quando quero sou rápida. Respirei fundo, lembrei-me que a minha pitchuquinha tem músculos bem fortes, e fiz um bocadinho de força. Lá consegui tirar o pinozinho para fora e não mexi mais.

Tentei sentar-me, andar e dançar a ver se sentia alguma coisa e sim.. sente-se que está ali qualquer coisa. Não dói nem magoa, nem faz impressão, mas está lá. Pode ser psicológico também, que o meu psicológico tem muito que se lhe diga. Mas não está mau....

Fui para o trabalho, regressei, fiz xixi, que essa era outra coisa que eu, apesar de saber que são dois canais diferentes, estava-me a fazer confusão, e resolvi escrever esta dissertação a explicar o sucedido.

E porquê? - não pergunta ninguém porque até tu já desististe da leitura.

Porque agora que está cá dentro, não quero tirar porque acho que já não vou conseguir pôr outra vez. Assim sendo, e porque gosto de experimentar, estou a pensar que em vez das 12h vou tentar os 3 dias de período, pode ser que não transborde.

Mas, se a coisa não correr bem e eu morrer com um copo menstrual na pitchuquinha, fica aqui o relato na primeira pessoa desta experiência vaginal.

Se não correr mal, volto aqui para contar.


Good Bi, minha gente. Good Bi, vaginas do mundo.


03 junho 2015

Entrevistas e Mães

Ora olá.
Parece que voltei. Voltei a terras africanas, voltei ao Blog, voltei à condição de menstruada... voltei a muita coisa.
Mas tenho estórias. Ah se tenho...
Ora como vocês as duas sabes, tenho andado a enviar currículos e em entrevistas, isto para tentar encontrar oportunidades laborais interessantes na minha área das biologias, por esse mundo afora. Assim sendo, houve uma oportunidade de entrevista para uma posição super interessante num sitio ainda mais interessante. Chorei bastante quando recebi o email para a entrevista... mas eu choro sempre muito e por muito pouco, por isso não há aí nenhuma novidade.
Chorei, fiquei extasiada, principalmente pelo facto de ainda ter valor no mercado, que há já tanto tempo abandonara. Podia não dar em nada a entrevista, não interessa, mas quiseram ouvir a minha bela voz, o que já me faz cair uma lagriminha no canto do olho.
Marquei entrevista com a senhora, e calhou que essa entrevista fosse no dia a seguir a eu ir para Sines. Ora até não calhou mal, ia estar em casa, sossegadita... ou não.
A minha mãe tem um hábito muito giro que implica elevar o tom de voz em situações pouco propositadas. Por exemplo, quando ela está no andar de baixo e eu estou no de cima ela grita o meu nome muito e muitas vezes - pode não ser por nada, pode ser para pôr na SIC que está a dar alguma coisa que ela acha giro, pode ser para eu ir ajudar a ir ao facebook, pode ser porque diz que o tempo vai mudar.... Normalmente eu respondo mas ela só ouve a resposta se eu gritar muito também, o que se traduz numa casa de gente com boa projecção de voz - se ao menos fosse no tom a coisa era bonita. No entanto há situações em que eu não consigo responder. Não posso. Ora estou ao telefone com alguém, ora estou a castigar a porcelana, e não dá jeito gritar dali porque ainda puxo uma ou outra hemorróida. Então nestas situações, em que eu não respondo, ela sobe as escadas, sempre a gritar (Estrela, Estrela, Estrela, Estrela, Estrela), até eu lhe fazer sinal para ela se calar que não posso responder naquele momento. E depois ela vai-se embora muito encolhida por ter feito uma asneira, e eu fico sempre cheia de pena de ter sido má e com vontade de lhe dar abracinhos.
E vocês agora vocês perguntam o que raio é que isto tem a ver com entrevistas. Tem tudo. Tem mesmo tudo...
Conhecendo os antecedentes comportamentais da minha mãe, disse-lhe que ia estar a manhã toda no computador a trabalhar e em reuniões e que não podia ser interrompida, nem ela podia gritar por mim. Percebeste, mãe??? Percebeste?
Percebeu.... ou não...
Ora no dia X, comecei eu a labutar no computador cedinho, porque ainda não estava de férias, e passei uma manhã tranquila no meu quarto, sem ninguém me chatear ou sem ouvir os cães, os pais, a televisão, estava bem encaminhada a coisa.
A entrevista era ao final da manhã. Liguei-me ao skype, avisei a rapariga que já estava online, e pus-me a ler coisas da empresa, a afinar os últimos detalhes. Na hora marcada ela liga-me pelo skype, e o que eu achava que seria uma conversa apenas vocal, incluía afinal a câmara ligada. PÂNICO! Primeiro atendi, vi que ela ligou a câmara e vi-me a mim também... de robe vestido (estava com frio), de cabelo desgrenhado e no meu quarto de adolescência.... Ai... não está a começar bem a coisa... Despi o robe como quem não quer a coisa, como quem continua a não querer a coisa fechei a porta do roupeiro atrás de mim que está aberta e tentei jogar ao chão, sem sucesso, a toalha que estava a secar na porta...
Lá fui eu respondendo às questões, mas sempre a olhar para a minha câmara a ver se estava tudo ok com o que a outra senhora estava a ver. Estava a coisa mais organizada e mais encaminhada quando... para mal dos meus pecados... a minha mãe assoma-se à porta.
Sem gritar, está claro, mas a gesticular muito. Fiz-lhe um sinal, como se faz com o cães quando se se quer que eles saiam, sem desviar o olhar da câmara e a olhar de esguelha para ela, enquanto lhe faço sinal para ela se ir embora. Ela, achando que eu não estava a perceber bem a importância de me chamar para o almoço, vem ao pé de mim para me tocar no ombro e me falar ao ouvido.... eu empurro-a e quase cometo mãecídio. O que é que ela faz de seguida? Passa muitas vezes atrás de mim, para fazer não sei bem o quê, enquanto a entrevistadora assiste à minha mãe a rodopiar no meu quarto enquanto procura a minha compostura perdida.... Por fim, lá se decide ir embora e eu olho muito envergonhada para a senhora, sem saber bem se pedir desculpa (its my mom, sorry about it), sem saber se me justifico que este era o meu quarto de adolescente e estou de férias e aqueles peluches não são mesmo meus... bom... no final não disse nada, e fingi que não aconteceu esta situação. Espero apenas que mais do que não ter visto a minha mãe a passar repetidas vezes atrás da câmara, ela não tenha visto os meus olhares assassinos para ela, que foram muito poucos apelativos da boa pessoa que sou.
Moral da estória. Mãe é sempre mãe, e a minha é a maior inspiração para este cantinho especial.
Ah.. e consegui uma segunda e uma terceira entrevista, por isso a situação nem foi assim tão má..
Fingers crossed!




15 maio 2015

estórias da minha vida. e da vossa, já que estão a ler isto.

Não.
Não abri um negócios de camelos, como o meu último post sugeria... não..
Consegui apanhar o voo, consegui participar no workshop, consegui sobreviver a África e voltar para a minha África, que é só minha.
Desculpem não ter dado noticias. Sei que têm mais em que pensar. Também eu.
Mas acho que sou daquelas pessoas que precisa de situações estúpidas para ter inspiração. Este é um sitio desses... de diarreias mentais... Mas infelizmente não tenho passado por situações estúpidas (ou inspiradoras)... Até hoje.
Portugal parece propício a personagens dignas de um filme mau, e todas têm uma certa tendência de se cruzarem no meu caminho. Ora hoje foi um desses dias em que pensei "ora aqui está uma boa inspiração para voltar às minhas queixas".
Estou eu no meu Portugal, de ferinhas boas em casa, e resolvo ir cumprir a tradição que é ir lanchar caracóis com o Sr. Arménio, meu rico paizinho, ao café do meu irmão. O meu paizinho, ricoquinho da minha vida, tem um hábito giro que é convidar toda e qualquer pessoa para a nossa mesa, desconhecidos ou não, só porque sim. E hoje foi um desses dias.
Convidou um tal de Sr. H para vir comer caracóis. E até aí, nada de mal. Normalmente os senhores gostam de saber onde é que eu ando, a fazer o quê, porquê, como, etc.
Não o Sr. H. Não este.
O Sr. H gosta de dizer onde já esteve e o que já fez.
Mas o Sr. H é muito mais do que diz. É tudo o que veste. Ora bem... como descrever.. um senhor dos seus quase 60 anos, com calças de ganga com muitos daqueles remendos que as nossas mães punham nos joelhos que esfolávamos, botas de cowboy e camisa típica de reformado.
Até aí tudo bem, ele sabe o que veste, ele é que fez a música.
Mas o Sr. H é muito mais do que veste. É tudo o que ele diz. Ora bem... como descrever... um senhor dos seus quase 60 anos, com calças saídas do Yellowstone, botas de cowboy e que diz muitas vezes a palavra "meu" durante o discurso e trata as pessoas por "maninho". Hum..... Freak.
Pois a coisa passou-se mais uma menos assim: "Ora meu, eu já estive na Guiné e no Gabão e em Cabo Verde e no Senegal, e no Caboja e no Quatar e no Benidorm e no Afrizaquistão (ou qualquer outro país que mais ninguém sabe que existe, nem as pessoas que lá vivem), meu". Ou "maninho, desculpa aí meu, maninho, ena pá maninho" - isto quando alguém que o Sr. H conhecia o cumprimentou e ele não respondeu de volta.
Mas uma das histórias mais interessantes foi quando me disse que tem umas amigas "meu, umas amigas, meu", que o convidaram a ir à Cuba (sim, ele dizia à Cuba e não a Cuba, o que me levou a pensar que era a Cuba do Alentejo, por alguma razão), e as amigas queriam que ele fosse lá, meu e pagavam o avião e tudo (neste ponto achei que provavelmente não seria a do Alentejo) e que ele já lá tinha estado "meu", e elas tinham pago tudo, tudo "meu". Eu devo ter feito cara de desconfiada, porque ele disse "oh pá meu, são mesmo amigas pá, engraçaram comigo maninho". E acho que revirei os olhos e por isso a conversa ficou por aqui, porque amigas destas, só em Avatar e mesmo assim não pagam bilhetes de avião porque conseguem voar.
E assim ficámos, com alguns silêncios constrangedores porque o meu paizinho gosta mais de ouvir do que de falar, e lá tenho eu que fazer conversa de circunstância.
 Então depois de se repetir a frase "estes caracóis estão mesmo bons meu, mesmos bons maninho", o Sr. H, depois de um longo silêncio diz - e até vou fazer parágrafo para isto - :
- Eu conheço uma coisa que enxuta aí a barriga...
E eu pensei "pronto, já fostes, mais um a querer oferecer o esperma (ou essência do homem), para me reduzir a barriga desta vez" - referência ao post sobre o cigano e a essência dele. E o rás-parta do maninho nem se importa de sugerir este tipo de javardices à frente do meu rico paizinho...
- É assim - continuou o Sr. H - De manhã engoles - mas tu queres lá ver - um dente de alho (haaaaaa), e depois bebes chá, pode ser qualquer um.. e depois já não crias barriga e isso encolhe tudo.
- Ah. Obrigada. Pois, diz que o alho faz bem.....
...
Ora bem. MAS PORQUE RAIO É QUE O MUNDO ACHA QUE TEM QUE ME DAR MEZINHAS PARA RESOLVER O QUE ELES ACHAM QUE É UM PROBLEMA ??????

É pá deixem-me da mão... deslarguem-me a breguilha... Deixem-me lá ter barriga, barba ou que seja.. Mas realmente eu tenho lá cara de precisar de mezinhas que incluam barrar esperma na cara ou engolir dentes de alho?? Tenho??

É capaz...

Bom, o moral disto tudo é que o Sr. H me fez lembrar que tenho o sitio perfeito para escrever sobre isto. Um lugar cheio de histórias pouco credíveis mas que são todas tão verdadeiras que não tenho nem coragem que convencer ninguém...O meu lugar.

Sinto-me bem por estar de volta. Continuarei. Obrigada a quem continuou por aí.


13 maio 2014

Salaam Aleikum...

Vocês sabem quando as coisas todas vos correm muito mal, nada parece dar certo e num momento de pausa entre tentarmos que o teto não no caía em cima recebemos uma carta das finanças a dizer que “na sequência do procedimento de liquidação das declarações de IRS, relativas ao ano de 2013, a sua declaração de rendimentos Modelo 3 com a identificação I0317/ 94 , foi selecionada para análise”, e de repente parece que encontramos a paz estamos prontos para partir para o além?
 Eu sinto-me assim neste momento, com alguma carência de higiene básica nas últimas 48h, mas em paz depois de provações e privações…
Ontem, apesar dum ligeiro atraso no voo Libreville-Dakar, a coisa correu sem demais problemas. A gente podia-se sentar onde quiser, eu era a única branca no avião, a tripulação era porreira e ainda jogámos ao Picturnary para lhes explicar onde era São Tomé e Príncipe.
Era um voo longo, com duas paragens, mas supostamente nem tínhamos que sair do avião por isso a coisa ia correr bem… ia… ia, mas não foi.
Logo na primeira paragem, no Benim (que eu nem sabia que existia como país ou marca de bolachas), ficámos cerca de 4 horas no avião. Sempre que perguntávamos o que se estava a passar diziam que estavam à espera de combustível… ninguém lhes vinha pôr combustível, porque aquilo não era a GALP e se calhar era self service…
Um atraso a colocar combustível parece-me aceitável…. 4 horas é de loucos. Estavam todos aos gritos em francês a tentar descobrir o que se passava e a falar muito alto com os hospedeiros enquanto eles falam muito alto de volta…Era no fundo um filme da Amélie muito alto..
 Eu tentava também, no meu inglês, tentar conversar com alguma calma com eles, já que eram novos e estavam tão fartos de ali estar como nós, e não tinham culpa – aparentemente…
Um dos rapazes, romeno, confidenciou-me entre as prateleiras das sandwiches, que não punham combustível porque a companhia aérea não pagava, e eles foram contratados pela companhia, e não podiam fazer nada. Ao que parece os pilotos estavam também aos gritos na administração durante essas 4 horas e nada puderam fazer.
Eu tentei explicar que tinha o voo de ligação e que não podia perder. Expliquei esta história várias vezes, em vários idiomas e em várias tentativas que soaram dialéticas. Até ao último minuto tive esperança, principalmente quando o rapaz me disse que se ainda fossem já nem faziam a próxima paragem e iam diretos para Dakar.
Foram esperanças vãs, sim senhora…
Depois de 4 horas fechados, de muitos gritos e protestos, deixaram sair os passageiros para o aeroporto, vulgo estação das camionetas de um bairro degradado onde se fazem abortos na casa de banho, e ali ficámos por mais 5 horas…
Não veio ninguém da companhia dizer o que quer que seja. Ninguém do aeroporto sabia dizer nada de nada, nem sobre aquele estúpido e incompreensível atraso, nem sobre a minha situação.
Disseram-me que podia ficar ali até de manhã e apanhar o voo das 9h00 direto para o Ghana, o meu objetivo final. Obviamente não consegui explicar a ninguém esta escala que me arranjaram, em que fazendo duas paragens em países relativamente perto do Ghana, me fazem fazer escala em Dakar do outro lado de África para depois voltar para trás.
Achei que esta era uma boa hipótese.
Estava tudo fechado àquela hora no aeroporto e por tal não consegui ter informações para tomar a decisão se arriscava ficar para tentar o voo de manhã, ou continuava ali quando aquele voo de conexão resolvesse seguir viagem.
Sem saber bem o que fazer e num estado de puro cansado e desgaste nervoso comecei a chorar fungosamente. Não queria saber de nada, nem de ninguém… só precisava de me assoar…
A casa-de-banho tinha meia torneira, as sanitas era indiscritíveis, as velhas cabines telefónicas serviam para guardar material de limpeza, e não havia papel higiénico.
Tentei comprar água, porque não havia nem um único café no aeroporto, e a merda da palavra “águâ” em francês deve ter uma entoação qualquer que ninguém me percebia..
O meu estado devia ser de tal maneira triste, que o único passageiro que falava inglês (um rapaz da Nigéria) me pagou a água e tentou ajudar-me ligando para “amigas” para saber do voo, mas sem sucesso.
Por fim, num recanto recôndito da sala de espera, consegui aceder à internet e verifiquei que o voo da manhã estava a vermelho, o que poderia significar que estava cheio ou que já era tarde para comprar. Também ninguém me sabia dizer se era possível comprar o bilhete com visa por tal era um risco grande ficar e não conseguir comprar o voo. A companhia também não me deixou tirar a mala do avião e ficar ali, já que o me voo era de conexão.
Moral da história: segui viagem.
A nova tripulação chegou pelas 02 da manhã e mais uma eternidade depois lá voltamos a entrar no avião, comigo de lágrimas enxutas e só a querer dormir.
Sentei-me, encostei-me e adormeci quase instantaneamente quando, cerca de 7 minutos depois, sou acordada por um roncar profundo do senhor grande ao meu lado… Put# Que pariu…. Lá me começaram a vir as lágrimas outra vez aos olhos…
Era mesmo o que faltava, um daqueles senhores grandes que dorme com o queixo encostado à barriga e ressona como um elemento do gado suíno em dia de consumo, no momento em que mais preciso apagar..
Pedi ao hospedeiro para me arranjar, encarecidamente, outro lugar… nem que fosse no chão.. longe daquele roncar. “I just need to sleep”… era o meu mote, e quase que queimei o soutien para provar o meu ponto..
Ele lá conseguiu e, no que podia ser o virar das coisas, fiquei sozinha em 3 lugares onde me pude estender.
Esta maravilha só durou 2 horas porque na paragem seguinte o avião encheu e perdi o privilégio. Mas estava tão cansada e exausta que não dei pelo avião aterrar, por gente nova entrar, por ter pessoal ao meu lado, não dei por nada… acordei já com o avião a descer para Dakar.
E pronto, às 6h50 da manhã, muito longe do meu voo das 2h00 que perdi, cheguei ao Senegal.
Na emigração tentei explicar a minha situação milhentas vezes, até que o 12º guarda falava minimamente inglês. Levou-me e ao meu passaporte até à agência de viagens do aeroporto para eu comprar o próximo voo para o Ghana, porque não me apetecia estar até às 2 da manhã no aeroporto o dia todo, passar outra noite num avião e chegar lá às 5 da manhã e ir logo para as conferências.
Havia um voo às 15h30. Boa. Comprei o bilhete e fui para a sala de espera do aeroporto. Dada a ausência de restaurantes e afins, de internet wireless e de bancos confortáveis, resolvi ir para a sala vip onde podia ter um bocadinho disso, falar com a família e dar sinais que estava viva e, acima de tudo, avisar o pessoal da UNESCO que não tinha conseguido ir no avião.
E aqui fiquei, na sala semi-vip (a vip é muito cara), onde conseguindo me sentir mais confortável e perto de todos lá longe, consegui descansar um bocado e acalmar os nervos..
Os senhores ficaram com o meu passaporte, por isso tive que esperar que mo viessem trazer no check in.
Estava tudo bem encaminhado, parecia… mas nesta minha vida de queixa as coisas correm sempre pior do que o esperado para ter o que escrever….Não devia ser a lei de Murphy, mas a lei de Estrela Matilde.
Cheguei ao check in e não me deixaram embarcar porque não tinha VISTO para o Ghana. Tentei explicar que podia fazer o visto na chegada e tinha a carta da UNESCO e tudo isso e não meu deixaram ir…
Desesperei… gritei…chorei….implorei por ajuda… nada.
“Como é que é possível terem-me deixado atravessar meia África e só agora é que me pedem o VISA? Como? Como é que é possível deixarem-me comprar o bilhete e não falarem disto? Como?
Berrei e gritei tanto que o senhor me emprestou o seu telemóvel para poder ligar a alguém a explicar a situação… foi a única coisa que consegui fazer por mim…
A única hipótese, disseram, era pagar pelo VISTO do Senegal ali no aeroporto para poder sair e ir à embaixada do Ghana e tentar fazer lá o visto e mesmo assim perdia aquele voo que já tinha começado o check in.
Lá fui eu pagar 50€ para fazer o VISTO, saí a correr e agarrei no primeiro gajo a roubar dinheiro que estava à entrada e que disse que tinha um taxi, levando-me depois a pé durante quase 500m até um carro com estofos de pelo de ovelha (NO SENEGAL), com um condutor próprio, e eu achei que fosse ficar sem um rim ou ser trocada por camelos (a sorte é que não sou loira e cheiro mal). Mas lá me levaram até à embaixada do Ghana, num passeio rápido por Dakar que não quero repetir.
Esta cidade parece que foi bombardeada a semana passada e assim ficou…
Ao chegar lá encontrei a senhora mais simpática que já vi na vida, e só desejo que alguém um dia lhe arreie com um tijolo na testa, só por ter sido tão prestável. “No, No, No. Only tomorrow. 3 Days. No, no, No”. Parecia a doméstica do Family Guy… Tu sabes que não vale a pena.
Esta foi daquelas que nem adiantava chorar, por muita vontade que tivesse… aquela simpatia e prestação meteu-me tanta raiva que não me preocupei com o futuro nos minutos seguintes, mas só em maneiras dolorosas de lhe abrir o esfíncter…
Bom, lá voltei para o aeroporto contra à vontade dos dois taxistas que só diziam “tranquila sister”, que me queriam levar para um hotel e que não havia problema “tomorrow, tomorrow”. Dei o troco que tinha no dinheiro aqui deles ao rapaz do carro, sem saber quanto foi… ele não se fez de rogado e agarrou nas notas que tinha, e o outro acompanhou-me ao aeroporto esperando mais dinheiro, mas caguei-lhe na cabeça e virei-lhe as coisas, enquanto um tumor se ia formando na minha cabeça derivado do sistema nervoso…
Tentei na mesma ir apanhar o outro voo, dizendo que ficava apenas na escala e lá tentava resolver a situação, e que precisava mesmo de ir, e já tinha o visto do senegal.. mas nada… o senhor da emigração era outro que merecia a testa aberta com a quina de uma cadeira.
Bom, a chorar compulsivamente – devo ser conhecida nos aeroportos africanos pela branca chorona – fui novamente à agência e disse que queria um bilhete para o próximo sitio não importa para onde mas já. A senhora, que foi estranhamente simpática e calma, percebeu a minha situação toda e, pela primeira vez em 48h, tentou ajudar.
Cancelou-me o voo que tinha comprado e que não me tinham deixado apanhar, devolvendo-me o dinheiro, e encaminhou-me até à diretora de operações da companhia aérea que me fez perder o voo para que me arranjasse outro. Chegando lá a senhora também era simpática, ligou para a companhia cujo voo eu devia ter apanhado, explicou que perdi a conexão por causa do atraso deles e perguntou se eu podia ir no voo seguinte nessa noite. Ele disse que sim, não havia problema, e disseram-me que em principio não haveria problema com o VISTO, porque podia fazer lá.
Hum…. Desconfio…
Enquanto esperava que me devolvessem o dinheiro fui lá fora fotografar umas rapinas que andavam no ar quando reparei que o vidro protetor da minha lente estava estilhaçado…
Olhei para a lente… e veio-me uma calma estranha. Preocupante e estranha…
Hum… hesito…
Mas pronto. Aqui estou. Continuo á espera. O voo é às 2h00 e estou a rezar a todos os santos para me deixarem ir…
Já pedi á minha mãe para me tirar o mau-olhado, que acho que isto foi olho gordo da outra que queria vir a esta reunião e não pode … mas agora que o azeite se dissolveu na água, acho que tudo vai correr bem…
Se não conseguir apanho o próximo para Lisboa porque não aguento voltar a atravessa África nestas condições… o problema é que o voo para Lisboa é 1 hora antes deste e posso não ir a tempo… vamos ver…
Outra hipótese é sair do aeroporto e formar vida e família aqui… Visto já tenho…Se não voltar a dar noticias é porque abri um negócio de aluguer de camelos aqui e estou a dar-me bem….

... Alaikum salam..

Profundidades Africanas

Olé… isto ainda cá está….
Pensaram que este meu espaço estava esquecido e olvidado nas fibras óticas da vida???
Pois claro que não... este pedacinho digital de verborreias verbais faz parte de mim e, quase em tons de elogia, diria que é praticamente tudo o que sou…
Mas tenho sido pouco fiel a este meu pedaço que aqui ficou pairado noutra dimensão, quando comecei a viver a vida a sério… mal pensado eu sei… isto é muito mais importante…
Mas Voilá. Voltei.
E este voilá vai fazer sentido, se continuarem a ler isto até ao fim. Se não continuarem, vou assegurar que esta dúvida e inquietação vos vai perseguir para o resta da vossa vida.
Bom, este espacinho nasceu, há 8 anos, na sequência de uma viagem pela Europa com a minha mãe querida, mãe querida e na realidade, sempre foram as viagens que me deram bastante material para me queixar da vida…
Agora que voltei a embarcar numa viagem com certos “quês” que merecem ser queixados, resolvi reanimar o blog, com massagens cardíacas e respiração sub-labial…
Depois de partir 3 costelas, tentar descobrir passwords através de perguntas-chave sobre a minha vida que eu um dia considerei essencial e que hoje a única resposta que me vem é “WTF?”… lá consegui trazer à vida estas memórias de uma queixa, que mesmo alzheimica, ainda tem muito por onde alvitrar…
Só para vos contextualizar na coisa, continuo por África, para onde embarquei há cerca de um ano e meio, e onde fui ficando. Continuo a viver na Ilha do Príncipe e foi aí que encontrei também o meu próprio príncipe e formámos o nosso ninho do amor…
Mas não é para falar dessas javardeiras sentimentais que resolvi abrir uma folha em branco no word (sim… eu escrevo primeiro no word). É para falar de aeroportos africanos. Já que estou com uma noite quase em claro em cima e acho que vou ficar com outra igual… parece-me que faz sentido falar de tráfego aéreo.
Há cerca de 3 horas atrás apanhei um avião em São Tomé, com destino a todo o lado.
Passo a explicar: Fui convidada a participar numa reunião da UNESCO em Accra (Ghana), sobre um manual de gestão das Reservas da Biosfera em África (e é aqui que vocês desconfiam que eu se calhar até sou uma pessoa séria e trabalhadora… nã….).
Ora, se forem olhar para o mapa que já não é mapa mundi, mas sim mapa Google, vão verificar que o Ghana é quase imediatamente em cima de São Tomé. Diria que até bem pertinho, tendo em conta que os aviões mexem-se depressa…. O problema – não fosse este blog alimentado deste tipo de coisas – é que não há voo direto e por isso tenho que apanhar 3 voos de quase 24 h para chegar ao destino..
Tudo bem… aeroportos em África soam bem… Viajar sozinha em áfrica também soa bem… Bora lá a isso… Estar vivo é o contrário de estar morto.
Apanhei o primeiro avião em São Tomé em direção a Libreville, no Gabão. Nome bonito Libreville.. é capaz de ser um sítio fino…
Ora, primeiros… a companhia aérea chama-se CEIBA, nome que não inspira segurança aérea e bom serviço aéreo… mas antes coisas com gordura, por alguma razão.
O avião, apesar de maior do que o que faz o trajeto São Tomé-Príncipe, é relativamente mais pequeno do que seria de esperar para um avião internacional… mas deixa andar… o logotipo é colorido, por isso ao menos morro num avião com falta de gosto… o facto de as hospedeiras serem de raça negra e falarem espanhol dá um ar ainda mais chique a isto tudo… e eu, por alguma razão que desconheço, tentei falar francês com elas (nem tive 1 ano em Barcelona a falar espanhol nem nada…), mas só me saiu o merci…
Em São Tomé só haviam uns 3 passageiros a ir para a Libreville e eu achei estranho que o avião voasse com tão poucos – comecei logo a pensar em probabilidades de cair tendo em conta que juntar o destino de poucos passageiros para que faleçam todos da mesma maneira é mais fácil do que se forem 200 – voltei à realidade e tentoei interiorizar que estando leve voa melhor… e lá vou eu, tentando passar na porta que tem as medidas exatas da minha anca.
Ao entrar no avião apercebo-me que afinal já estava recheado de pessoas coloridas, a fazer jus ao logotipo da CEIBA. Nunca vi tanta cor vibrante e tanto ouro num espaço tão curto… Não sei donde aquela gente toda veio, mas parecia que iam todos a um casamento indiano ou cigano.. sei lá…
Consegui no entanto ter dois lugares só para mim.. maravilha… e lá abri a mesinha, saquei do meu estojinho de canetas colorias e comecei a colorir…
Mentira. Comecei a sublinhar e a rasurar o documento bíblico que tenho que ler para a reunião. Trabalhei um bocado e achei que ia ter bastante tempo quando, 2 minutos depois de começar a ler, o piloto diz qualquer coisa numa língua qualquer, como que a dizer que íamos aterrar.
E eu.. “ora queres ver… ainda mal entrámos… tanto avião para apanhar e vou cair logo no primeiro, queres ver?”
Afinal de contas o voo era mesmo só de uma hora, mas no meu itinerário esqueceram-se de contar com as mudanças de hora… coisas da vida.
Tentei tirar algumas fotos do ar de uma cidade que parece que está a ser agora construída. Essa foi a sensação com que fiquei do céu… obras e fundações por todo o lado.. poucas casas… não devem ter dado com isto há muito tempo.
Saí do aeroporto e tirei umas fotinhas para a posteridade da minha chegada ao Gabão, afinal não iria sair do aeroporto, quando, no alto do seu francês, um sujeito negrão e grande vem falar comigo a dizer que não podia tirar fotos porque era inconstitucional e iria apreender a máquina… Não percebo francês.. fiquei com esta certeza agora… mas era isto que ele queria dizer…
E ninguém aqui, nesta terra, falam inglês. Também aprendi isso hoje. E ainda não consigo perceber como é que aeroportos internacionais não têm um único funcionário que fale inglês?...
Eu fiz olhos de cadelinha, humedeci as pupilas, pisquei bastante as pestanas e disse “pardon, pardon, je ne sabia… pardon.. pardon”.
O senhor, contra todas as expectativas tendo em conta o alto da sua negridão e a conversa de membro integrante da segurança e regras, disse que queria uma “Coke”.
Eu pensei… será que é uma coca-cola? Será que é cocaína?.. É difícil perceber no meio de todo o franciú. Fiquei confusa com a alusão ao termo coka no meio da conversa sobre ilegalidades.
Eu, depois de com gestos tentar perceber o que ele queria (isto foi no meio da pista e todos os outros passageiros já tinham ido embora), lá compreendi que ele era amigo do dono daquilo tudo e que se lhe pagasse uma coca-cola não havia problema, e ele fechava os olhos (fez mesmo gesto de quem fecha os olhos). Eu, achando que isto devia ser uma armadinha, tive o bom senso de mostrar apenas a minha carteira local com dobras que levantei para pagar a taxa de saída do país (sim, tenho que pagar 18€ para sair de São Tomé), e fiz-me de parva que estava em transfer, não tinha dollars e só tinha dobras.
O senhor lá aceitou as 100.000 dobras (4€) e foi à vida dele. Uma coca-cola cara, mas uma máquina fotográfica barata, se ele fosse ficar com ela.
Eu, sentindo-me suja e badalhoca por ter comprado um agente da autoridade, fui tentar achar a entrada para ao aeroporto (ainda estava na pista), e depois de falhar todas as portas que tentei (sinais indicativos é para meninos!), lá me foram dando algumas indicações “sortir, sortir”.
Entrei no aeroporto pela sala de espera dos próximos voos – estranho – e tentei no meu francês, puxando de todas as vezes que vi a Amelie, perceber para que lado é que tinha que ir para fazer o check in para o próximo voo.
Tentei primeiro a zona das bagagens, não foi tarefa fácil tentar lá ir sem ter que ir aos VISAS e coisas afins, mas a palavra “transfer” funcionou bem e lá dei com a zona das bagagens.
Chegando lá uns moços meteram-se comigo no alto do seu francês, e eu respondi o que pude do baixo do meu “francenhol”. Para variar ninguém falava inglês, mas consegui, através de “Mi Jane Tu Baggage” descobrir o tapete com as malas de São Tomé. Chegou bem a mala.. até agora.
Acho que entrei nos confins do aeroporto de Libreville onde mais ninguém andou, mas lá consegui chegar à entrada principal, apinhada de gente. Tentei achar o check in, que dizia no único ecrã existente estar aberto, quando reparei que estava fechado e havia toda uma fila de gente por todo à espera de entrar no check in (ao que parece é um a um).
Lá fui eu para o fim da fila para entrar no check in, quando o rapaz das malas veio falar comigo e me fez alguma pergunta complexa que não consegui perceber e cuja resposta que dei foi “Dakar”.
Bom, Dakar no Senegal é a minha próxima paragem, e acho que deu para ele perceber o que eu queria.
Entretanto junta-se um senhor vestido de roxo à conversa (ele a falar comigo em francês e eu a responder “Sants Ellisé” e palavras aleatórias em francês que me fui lembrando.
O senhor teletubi lá me disse, pelo menos acho, que o voo de ontem para o Senegal foi cancelado e que toda a gente de ontem estava ali hoje para apanhar o avião e por isso este estava cheio. Eu olhei para a fila de gente e comecei a explicar que tinha uma conexão, que não podia perder e “Croassant” e assim.

O senhor leva-me para o início da fila e começa a chamar a polícia, que diz que são seus amigos “sabem dizer friends ao menos…

(Neste preciso momento tenho gente de joelhos a pôr a testa no chão a rezar ao meu lado e não sei o que fazer… Tenho que parar de escrever, como se estivessem a atear a bandeira? Estou constrangida… Acho que me sentei no caminho de Meca e por isso vieram ajoelhar-me mesmo ao meu lado… sinto-me a pecar.. Também tenho que me ajoelhar? Eles levantam-se, ajoelham-se, põem a testa no chão, voltam a levantar e a ajoelhar (descalços), enquanto balbuciam coisas estranhas. Estou com medo agora… Bom, pelo menos com o levantar e ajoelhar fazem uns abdominais…. Se calhar é uma boa religião para mim… e por esta, vou arder no fogo do inferno… Oh meu Deus – ou o deles - estão a juntar-se mais e estou cheia de coceira por não poder tirar fotografia… quem me dera ser asiática sem vergonha na cara…. Podia mostrar-vos os chefes tribais com capas roxas que por aqui se pavoneiam… podiam ver gente de testa no chão do aeroporto… podia ver meninas com mais outro que o Banco Nacional Português… podia… mas não era a mesma coisa).
Voltando à história.. O Polícia não lhe ligou nenhuma, mas o senhor passou-me à frente de toda a gente sem dizer nem ai nem ui, e a verdade é que ninguém pareceu importar-se… Sinto-me sempre muito “negativamente branca” quando me passam à frente de outras pessoas de outras cores…
Mas pronto, lá no início da fila (à espera que chamassem mais gente), o senhor também veio com a conversa da Coka… E eu revirei logo os olhos… Disse que só tinha dobras, dinheiro de São Tomé. O senhor de roxo lá disse que tinha que ser euros ou dólares, que o dinheiro de São Tomé não prestava que era “tré petit, tré petit” e eu disse que “é tré petit mas chapéu” (mostrei a carteira local só com dobras), que morava em São Tomé e não tinha mais nada, uma historieta convincente com os olhinhos de quem está perdida e abandonada no mundo e tem muito medo… O senhor não estava nada contente, e falava com o rapaz das malas em francês uma conversa que me soou qualquer coisa como “puta da branca aparece aqui no nosso país e nem uma merda dum dólar tem”. Não se se foi isto, mas pareceu.
Depois apareceu a polícia e eu entrei com o rapaz da mala, e o senhor de roxo ficou a dizer para eu depois voltar a sair e ir ter com ele para, segundo gestos inconfundíveis, ir a uma espécie de máquina mágica em que se enfia um cartão e sai dinheiro”.
Deves ter sorte deves…
Bom, na fila do check in (estavam 4 pessoas a atender, 2 cliente e 100 lá fora à espera de entrar) estava um senhor que “MILAGRE” falava inglês. Tive vontade de o abraçar com força e até me saiu uma pinga de lágrima quando consegui explicar, com a certeza de ser compreendida, toda a história da minha vida.
O rapaz da mala, apesar de não me ter pedido nada, percebeu que não tirava nada dali e foi há vida dele e eu fique com o senhor que me explicou que eles queria dinheiro mas as dobras não serviam de nada ali (o outro deve ter sorte com a coka) e para não me preocupar que se tinha o bilhete comprado ia voar de certeza.
Lá fiz o check in, e graças ao senhor com quem os senhores falam ajoelhados no chão, mandaram-me subir umas escadas em vez de voltar a sair pela multidão enfurecida em busca de cokas.
(Está mais gente ajoelhada no chão… isto é assustador… do nada homens grandes e de capas coloridas jogam-se para o chão e começam a balbuciar coisas sem sentido... Pelo menos já sei para que lado é Meca. Isto não devia ser sempre há mesma hora? Não parecem organizados…).
Agora que já se aperceberam que o meu conhecimento de religião é louvável, continuemos...
Subi escadas que mais nenhum passageiro subiu e fiquei com a sensação de ter entrado na área para funcionários, mas quando encontrei alguém que não me ignorou – normalmente homens – lá disse “Dakar, Dakar” e o senhor abriu-me portas secundárias para ir para o controlo de passageiros e segurança.
A bem da verdade, sem ser a fila de viciados em coka a querer apanhar avião, não há filas nenhumas neste aeroporto e é tudo muito rápido (em troca de uma coka, claro)…
E agora aqui estou eu, na sala de embarque do aeroporto de Libreville, onde a Duty Free Shop só tem bebidas alcoólicas, a loja de perfumes tem uma senhora cujo-sonho-era-ser-hospedeira-mas-puseram-na-a-vender-perfumes-e-por-isso-não-responde-a-ninguém, e uma cafetaria sem café. Não existe um único sítio para comer. E há senhores por todo o lado de joelhos no chão, a dizerem coisas piores que o Francês…
As pessoas não são simpáticas… não fazem esforço para te compreender, a não ser que queiram o presentinho para a Coka. E sinto-me estranha em ser a única pessoa de pele branca numa sala com mais de uma centena de pessoas…
As roupas e os modelitos são indiscritíveis. Os homens usam mantos esvoaçantes, com fatos de linho da mesma cor e um chapéu de porteiro…as mulheres competem pelo vestido mais berrante, pelo maior número de joias de ouro e sandálias brilhantes… as minhas unhas desaparecem por não poder fotografar (tenho medo da quantidade de cokas que tenho que pagar por isso).
E juro, por tudo o que é mais sagrado, que o feiticeiro negro amigo do Harry Potter que trabalhava no ministério está aqui na sala de espera… igual até no chapéu…
Mas avante. Moral desta experiência toda: Tenho mesmo que aprender francês.
Mas tudo isto é compensado quando nos ecrãs do aeroporto aparecem gorilas…. Eles sabem como me conquistar…

A seguir vou apanhar um avião da Senegal Airlines, e olha… seja o que Alá quiser. Por via das dúvidas acho que me vou ajoelhar.

23 janeiro 2013

inté...


Dentro de aproximadamente 24h estarei no aeroporto de Lisboa a embarcar para o continente Africano.

O quê? O meu anterior post sobre escorrimentos vaginais não fazia adivinhar uma eventual viagem para um sítio quente, húmido e encaracolado?

Isso é porque vocês deixam muito pouco à imaginação e só por causa dessa deviam imolar-se pelo fogo...
Mas assim, a bem da verdade e da realidade, que nem sempre é valorizada neste cantinho, nem eu própria sabia.

Em menos de um mês a minha vida deu uma volta sobre si mesma, rebolou-se ao contrário, esbarrou na parede umas quantas vezes e agora estou meio Alzheimica: não sei quem sou, nem para onde vou, nem com quem vou...

Mas pronto. Não há-de ser nada. Há que ir.

Há tanto tempo a desejar sair, ir embora, fazer alguma coisa, arranjar trabalho longe, ter novas experiências... Agora que veio, custa um bocadinho a ir.

Foi tudo muito rápido, e preparar uma viagem para África não é o mesmo que para Cuba do Alentejo e por isso ainda não parei, ainda não respirei e este tom arroxeacho, apesar de ficar lindamente com os meus olhos, acaba por ser desagradável.

Irei, 6 meses por enquanto, trabalhar na magnífica ilha do Príncipe, fazer a gestão ambiental dum resort, com ordenado, cama e comida.

Até aqui a coisa parece boa. Mas desconfio. Desconfio sempre que alguma coisa é demasiado boa. Hum...
Mas vejamos...

Por enquanto, e porque foi tudo super rápido, irei com um visto de “homem de negócios” que implica que fique apenas por 90 dias, seguido de uma rápida deslocação a outro país Africano para depois voltar... Ora ser homens de negócios não me parece mal, acho que me assenta bem o estatuto e tenho buço para tal... fazer outra viagem a outro país do continente só para bater o ponto, também é razoável, há aeroportos bonitos... por isso, se virem a minha cara nos jornais como “portuguesa detida com catrefadas de drogas na bagagem em África” não se admirem... é porque a coisa era mesmo boa demais.

Mas tou com fé. Apesar daquela relutância em sair de casa, deixar quem amamos por longo tempo, deixar o meu Puffy Emanuel com um aperto no peito, deixar a minha casinha, o ginásio... deixar assim a vida com que estava confortável (mas não feliz) nos últimos tempos e ir.... susta sempre.

Odeio fazer malas. Odeio empacotar num recipiente definido aquilo com que estou confinada em 6 meses...não gosto mesmo...é demasiado limitado... é demasiado finito...

Mas está feita. Amanhã lá estarei.

Espero voltar.

Depois de enfardar comprimidos anti-maláricos como se fossem rebuçados porque achei que a toma semanal era diária e por pouco não explodi o fígado é um começo auspicioso... E como acredito que metade dos antibióticos que tomei me escorreram pelo braço quando fui vacinada, acho que é uma viagem promissora a coisas boas..

Agora a sério. Até mais do que não apanhar doenças... aquilo que eu mais desejo, mais do que tudo, mesmo, mesmo, mesmo... é não engordar...

A banana frita diária parece-me pouco diética... Pode ser impressão, deixa ver.

Se deixar de aparecer nas fotos é porque deixei de lá caber.

Depois vou dando noticias.

Abraço quente e anti-biótico.

06 janeiro 2013

E Darwin nunca menstruou...


Ultimamente não tenho cá vindo.

Está frio por aqui...algum pó nos cantos... e os espelhos já não têm reflexo...

Enfim... o tempo passa. A vida passa, e sem darmos por isso, morremos.

Não. Calma. Ainda não morri.

Se morri não dei mesmo por isso. No entanto a conexão online é fantástica por aqui... nada de perdeu, portanto...

A verdade é que gosto de aqui vir dizer mal das coisas e da vida. Mas das coisas parvas e estúpidas da vida, não das coisas sérias da vida... Ultimamente não tenho grandes coisas parvas e estúpidas para dizer... 
A vida tem perdido a sua graça, e histórias de ciganos que me oferecem o seu esperma para uma qualquer mezinha contra pêlos faciais, é coisa do passado... com muita pena minha...

Não quero vir aqui falar da crise, do desemprego, da falta de esperança, da falta de amor, do aperto constante no coração... Não preciso disso... Vocês não precisam disso... Têm os telejornais todos os dias.

Portanto... Enquanto castigava a porcelana aproveitei para fazer pensamentos profundos e estúpidos sobre a vida e vir aqui partilhar com quem não encontrou a porta da saída, e ainda cá anda.

Para quem me conhece ou acha que sim, através destas linhas de pura parvoíce, eu gosto particularmente falar de fluídos corporais. Aqueles que todos temos, só a bailarina é que não tem, e que ninguém gosta de falar porque é feio.

E como estou naquela altura do mês, venho falar daquela altura do mês. Aqueles dias de puro inferno onde a vida é um bocadinho pior, as pessoas são todas mortalmente idiotas, e só nos apetece bater em todos um bocadinho, com muita força.

Eu percebo toda a questão da procriação e não sei quê, e a mulher tem que sofrer porque a outra deu ouvidos à cobra zarolha e o raio que a parta... Tudo isso é bonito, sim senhora. O corpo da mulher prepara-se para receber uma criatura dos infernos que nos vais rasgar as partes íntimas e desprivadas. Nada contra.

Agora há uma coisa que não percebo... como pessoa das ciências tento ver o lado cientifico da coisa, só naquela de dar nas vistas... e... supostamente... se estamos na época reprodutiva, preparadíssimas para receber os girinos albinos, não deveríamos andar por aí que nem pavoas e conquistar os portadores de sacos escrotais, com ar de papás? Não devíamos vestir leggings cor de pele, sapatos com padrão chita, pintar os lábios de vermelho, as unhas de rosa e assinalar com raquetes de aeroporto o caminho mais rápido para a entrada sagrada?

Mas então, como é que esperado evolutivamente que façamos tal espetáculo, se inchamos 3 vezes (e não adianta os 20 kg perdidos... voltam todos à tona em apenas 3 dias)? Como é que havemos que tentar conquistar quem quer que seja, quando sangramos que nem um porco, temos dores que doem muito, só queremos comer pipocas salgadas, ouvir o “All by myself” encostadas na parede, enquanto choramos e cantamos, e engolimos ranho em todo o processo? Como é que é possível querer reprodução quando todo o processo prévio é já tão doloroso, sujo, badalhoco e desconfortável? Como é que é esperado que lutemos contra as nossas fêmeas competidoras, quando só queremos nos abraçar umas às outras, dizer mal dos homens que tal, queixarmo-nos da celulite, enquanto enfardamos um balde de Haagen Daz?

Lamento, não venho qualquer excitação em toda esta imagem, e acho que a última coisa que uma mulher quer, em plena época de esvaimento sangrinal, é o contacto corporal com outro espécime...

A evolução não funcionou bem neste sentido apenas e somente porque o Darwin nunca menstruou. E esta é a conclusão científica de tudo isto.